Nada evita ou ameniza a dor, mas o conhecimento mostra caminhos mais suaves para o enfrentamento do sofrimento
O processo do luto, como sempre dizemos, é uma tarefa extremamente árdua. A maioria das pessoas tenta evitar ou fugir deste processo quando ele é necessário, ou seja, quando perdemos alguém ou algo muito importante em nossa vida.
Fugir desse processo não é um caminho muito adequado, ou diria até possível. A pessoa pode boicotar sua vivência do luto para se proteger da profunda dor que isso significa, porém essa vivência só será adiada. A tarefa do luto é elaborar a dor da perda e reposicionar em termos emocionais, psíquicos e ambientais o enlutado nessa nova realidade sem a presença do ente querido que se foi. Enquanto essa tarefa não for cumprida, o enlutado permanecerá em estado de luto, o que, com o passar dos anos, pode trazer prejuízos físicos e psíquicos.
Não existe uma maneira única e certa que ajude a superar esse momento, mas algumas orientações são de grande ajuda e colaboram para entender e lidar com esses sentimentos tão intensos, confusos e sofridos desse processo. A psicóloga clínica Maria José G S Nery, sugere 17 passos para enfrentar uma grande perda:
1-Fale sobre sua perda e sua dor: É muito importante que os outros saibam que este assunto não deve ser evitado e que lhe faz bem falar sobre isto, abrir-se com alguém de confiança, ajuda no entendimento e na aceitação.
2-Enfrente o sentimento de culpa: Quando se perde alguém importante é difícil sentir que se fez o bastante. Não pode se sentir responsável por não prever os acontecimentos, ou culpa como se tivesse tido a intenção de prejudicar alguém.
3-Trabalhe os sentimentos de raiva e revolta: É muito importante percebê-los e expressar os sentimentos de raiva e amargura. Não adianta negá-los ou envergonhar-se deles, são normais e irão desaparecendo com o tempo e a aceitação do fato.
4-Idealização: Há uma fase em que a pessoa pensa em suas falhas como pai, mãe, filho, cônjuge, irmão, namorado ou amigo... E vê a pessoa que se foi como um ser perfeito. Com o tempo, começará a vê-la como um ser humano real, com suas qualidades e defeitos, assim como todos nós.
5-Não se isole: Mesmo que não se sinta à vontade para compartilhar seu sofrimento e prefira ficar sozinho, precisa buscar a companhia de outras pessoas. Amigos e familiares que o estimem podem ajudar muito. Isto consola, renova suas forças e ajuda na construção de novos objetivos e, com o tempo, a recuperar a alegria de viver. Estas pessoas podem fazer muito por você e você por eles.
6-Mudança de valores: Diante da morte ou de uma grande perda, a pessoa tende a repensar seus valores, e implementa mudanças positivas na sua maneira de ser e de viver, tornando-se menos preocupada com o ter e mais com o SER, evoluindo moral, emocional e espiritualmente.
7-'Nunca mais serei o mesmo'... : É frequente haver um grande sofrimento neste pensamento que pode ser real, mas isto não significa que nunca mais possa ser feliz. Embora esta idéia possa parecer inaceitável no período do sofrimento, as transformações podem nos enriquecer.
8-Evite decisões importantes ou grandes mudanças: O primeiro ano após a perda, geralmente não é um período adequado para tomar decisões importantes ou fazer grandes mudanças, a menos que as circunstâncias o exijam. Uma pessoa amargurada tem a capacidade de julgamento diminuíida. Se algumas mudanças forem necessárias e inadiáveis, peça a ajuda de alguém competente e não envolvido emocionalmente com os problemas.
9-Reserve períodos e local para lembranças: Não fique o tempo todo pensando e vendo objetos da pessoa que se foi. Tente reservar algum período específico do dia (no início), da semana ou do mês, para recorrer às lembranças através de objetos e fotos.
10-Prevendo dias e datas difíceis: É útil saber que vai sentir-se mais triste, solitário e infeliz em certos dias e datas do que os outros. Isto mesmo após já ter-se passado tempo e com a vida mais estabilizada. Planeje passá-los com amigos ou familiares, pois é provável que fique mais triste, choroso e deprimido que em outras ocasiões. Não se isole, é bom que esteja em companhia de pessoas que o estimem.
11-A crença de que a vida transcende nossa estada na terra e num ser superior: Desde a antiguidade, a maioria dos povos de todas as regiões do globo, com culturas e religiões diferentes, acreditam na imortalidade da alma ou espírito e na existência de um Deus ou 'Algo Superior'. Isto é quase que uma intuição que nascemos com ela. A religião é um pilar importante e acolhedor nesse momentos de dor.
12- Culpa por sentir-se bem: É comum as pessoas não se permitirem alegria após uma grande perda, não aceitando convites de amigos, evitando atividades agradáveis. Sentir-se contente, ter novos objetivos, não é deslealdade nem significa que não ama ou está esquecendo o ente querido. Conseguir prazer em algo significa que está trazendo um pouco de alívio ao seu sofrimento, retomando ou recomeçando a construir sua vida.
13-Reajustar-se à vida e ao trabalho: Tirar alguns dias ou semanas para reequilibrar-se e, depois, uma folga ocasional, quando necessário, é perfeitamente normal. Mas as atividades devem ser retomadas assim que for possível, pois são importantes no processo de recuperação. Seja paciente consigo mesmo, porque nos primeiros meses sua capacidade física e mental podem não ser as mesmas.
14-Liberte-se de expectativas irreais: Acreditar que a vida deveria ser diferente, não envolvendo escolhas dolorosas, sofrimentos e perdas, é irreal e só traz revolta, o que só prejudica. Tornando nossas expectativas quanto a nós mesmos, aos outros e à vida mais realista, fica mais difícil nos frustrarmos e mais fácil nos adaptarmos.
15-Integrando a perda: Situações de muito sofrimento podem ser transformadas em aprendizado. É preciso deixar de lados as perguntas centradas no passado (que é imutável) e no sofrimento ('Por que isso aconteceu comigo?') e começar a fazer perguntas que abrem as portas para o futuro: -'Agora que isto aconteceu, o que posso e devo fazer? O que posso aprender com isto? O que posso fazer para Ser e sentir-se melhor?') Quando chegamos à fase de aceitação, atingimos a compreensão e crescemos com a experiência, a dor se vai. Fica a saudade, e só se tem saudades de algo que foi bom ou nos trouxe algo de positivo.
16-Pesar excessivamente longo: Quando um sofrimento excessivo consome alguém por mais de um ano, geralmente o problema principal não é a perda em si, mas algum outro aspecto que precisa ser entendido. Uma dependência excessiva em relação à pessoa que se foi, culpa por algum motivo é um componente muito forte na situação, problemas emocionais pessoais ativados ou reforçados pela perda ou outras razões significativas. Amigos, conselheiros ou um psicólogo podem ser necessários neste caso.
17-Procure ajuda profissional, se necessário: Um profissional da área é alguém com quem você pode dividir seu sofrimento, sua revolta, seu medo, suas lembranças dolorosas, sua culpa e seus conflitos; que pode compreender e ajudá-lo. As sessões de terapia podem ajudá-lo também a tomar decisões práticas que o farão sentir-se melhor.
No início do pesar, uma das forma mais comuns de manifestar o sofrimento é resistir a crescer com ele. A vida pode ser prejudicada ou fortalecida por uma perda. Ninguém permanece o mesmo.
Nada evita ou ameniza a dor, mas o conhecimento mostra caminhos mais suaves para o enfrentamento do sofrimento.
Por: Taísa Belingieri (Revista Diretor Funerário - Jul/2011)