A morte que para nós é um fato que traz muita tristeza, é interpretada de diversas formas diferentes em outros lugares do mundo. Confira:
Sempre que um ente querido falece, nossa reação de tristeza é imediata, as lágrimas chegam rápido e em alguns casos o abalo emocional também se faz presente. Mas e se te dissermos que em algumas regiões pelo mundo a morte é motivo de festa? Ou então algo extremamente sério e repleta de ritos? Estas são apenas algumas das muitas interpretações diferentes que outras culturas fazem sobre a morte. Que tal conhecer algumas delas?
Provavelmente você já ouviu falar sobre as múmias e pirâmides do Egito. Acontece que elas fazem parte de todos os ritos realizados pelo povo egípcio sempre que havia uma morte. Havia entre eles a crença de que todos os fatos ocorridos possuíam relação direta com a natureza, posição dos astros, entre outras coisas, portanto a sua interpretação era de que a morte significava o desprendimento da alma do corpo humano, o início de uma nova fase. Assim sendo, se o corpo era a morada da alma, então deveria ser muito bem conservado para que pudesse ser utilizado novamente pela alma neste novo momento. Por esta razão, aconteciam as famosas mumificações, retirando-se as vísceras e restos mortais e repousando o corpo em uma mistura de carbonato de sódio e água, para em seguida preenchê-lo com ervas que evitavam a deterioração dos tecidos, e finalmente eram enfaixados e cobertos por uma cola para evitar a contaminação.
Após a preparação do corpo, ele era colocado em um sarcófago, e só então depositado em um túmulo. Apenas sacerdotes e faraós eram sepultados nas famosas pirâmides, chamadas de mastabas,juntamente com as oferendas comuns no ritual, o que também permitia compreender a posição social de cada egípcio falecido. Acreditava-se que após a morte, o falecido era conduzido pelo deus Anúbis até o tribunal de Osíris, em que seria julgado por outras quarenta e duas entidades divinas. Neste tribunal seus erros e má conduta seriam avaliados e seu coração pesado. Caso fosse mais pesado que uma pena, não poderia entrar no Duat, o submundo dos mortos, e sua cabeça seria devorada pelo deus Suco, que possui cabeça de crocodilo.
Talvez você já tenha ouvido falar da Festa dos Mortos. Apesar do termo soar estranho aos nossos ouvidos, esta é uma das principais festas da cultura mexicana, celebrada no dia 2 de novembro. O intuito da festa é celebrar e relembrar não apenas os mortos, mas também tudo aquilo que gostavam enquanto estavam em vida, já que para eles, a morte é uma passagem que permite que o falecido se livre das vaidades do mundo. É extremamente comum nos cemitérios do país encontrar celebrações com muita comida, mariachis e trios especializados tocando as músicas preferidas do falecido.
A ideia de se festejar para ‘alegrar os mortos’ foi levada tão a fundo, que existem doces específicos criados para a celebração do Dia dos Mortos. A caveira também foi uma figura adotada como um dos principais símbolos do país. Após a criação da gravura de La Catrinna (uma caveira vestida de forma elegante) por José Guadalupe Posada, a imagem se disseminou, e atingiu níveis não imaginados. Atualmente alguns mexicanos cultuam a imagem da Santa Morte. Uma caveira vestida como virgem, que recebe cultos e oferendas.
Para o povo mexicano é extremamente comum a figura da caveira e a ideia de morte como algo inevitável desde criança. No país existem museus com corpos mumificados expostos, e a ideia de se relembrar os mortos é comum, como no caso do cemitério de Pomuch, em que os corpos são exumados e os ossos limpos todo dia 2 de novembro.
Se tratando da Índia, você já deve ter imaginado que a morte para este povo possui relação com o Rio Ganges. Considerado sagrado, o rio situado na cidade de Varanasi é centro de toda a cultura inclusive no momento da morte. Ao se caminhar pelas escadarias de Varanasi é extremamente comum ver fogueiras ardendo durante todo o dia, mas elas se encontram sempre ali por um motivo: Cremar os mortos que terão suas cinzas jogadas no Ganges. Em cada uma das pilhas de madeiras amontoadas existem corpos de pessoas falecidas, e não raro, estes mortos estiveram na ‘fila para morrer em Varanasi’.
Logo atrás das escadarias existe uma viela, onde é possível encontrar vários idosos, que foram até lá aguardando a sua morte para que possam ser cremados e que tenham suas cinzas jogadas no rio, pois segundo o hinduísmo, isto os ajudará a atingir o Moksha, um estado de libertação deste ciclo de ressurreições que prende o homem aos sofrimentos da terra, um dos principais objetivos hinduístas. Por este motivo não há tristeza na morte, e ela é vista apenas como uma passagem.
Assim como nas outras culturas, o ritual pós morte nas altas montanhas do Himalaia possui influência de uma religião: o Budismo. Preferencialmente a tradição budista se utiliza da cremação, mas no Himalaia, as condições impedem este tipo de ritual. As montanhas rochosas não possuem árvores, portanto não há combustível para o procedimento, assim como não é possível realizar enterros em solo rochoso. Na região do tibete, para solucionar o problema, o habitantes costumam realizar um ritual considerado sagrado, com origem anterior ao budismo. O ‘Funeral nos céus’, em que os mortos são esquartejados e deixados como alimento aos abutres.
Este procedimento evita a disseminação de doenças e é tratado como algo sagrado, pois estará sustentando a vida de outro ser vivo. Após uma longa caminhada até o ponto mais alto, os corpos são cortados em partes por um especialista não budista, portanto, a pessoa mais indicada para o procedimento. As comunidades budistas acreditam, que o desprendimento da alma em relação ao corpo, o deixa na terra como um vaso vazio, enquanto sua alma segue, portanto devolver o corpo à natureza é considerado sagrado.
Até mesmo os Estados Unidos contam com alguns ritos diferenciados no momento da morte, especialmente na cidade de Nova Orleans, em Louisiana. A cidade extremamente cosmopolita, também considerada um dos berços do Jazz, não poderia deixar de apresentar uma tradição riquíssima. Os rituais semelhantes a alguns realizados na África e na Europa, se destacam em meio ao país por não tratarem a morte apenas com tristeza. Talvez eles sejam a comunidade mais equilibrada em relação a isso, pois seus enterros são repletos de muito Jazz. No início do cortejo o clima ainda é pesaroso, e as músicas mais tristes, mas assim que o corpo é finalmente enterrado, então as músicas se tornam mais alegres, e o clima de tristeza se transforma nesta cidade repleta de muita cultura.
Diversas pessoas optam pela cremação como uma opção ao sepultamento, e é comum que após o procedimento, as cinzas sejam guardadas em gavetas, ou então conservadas pelos parentes em algum recipiente, mas a Coreia do Sul foi um pouco mais longe. Devido à necessidade da cremação pela falta de espaço em seus cemitérios, a cremação se tornou a principal alternativa ao falecimento, mas ela não parou apenas na cinzas. Algumas famílias têm pago para transformar as cinzas de seus entes queridos em miçangas.
O restos das cinzas são derretidos até o ponto da cristalização, e então são transformados em várias miçangas que podem variar entre rosa, roxo, azul, verde e preto. Em média um corpo adulto costuma render até cinco xícaras de miçangas, enquanto que corpos mais jovens, rendem até oito xícaras devido à densidade dos ossos. O procedimento se tornou extremamente comum, e uma alternativa criativa à falta de espaço para sepultamentos.
Todas estas formas de se encarar a morte nas diferentes culturas, comprovam a diversidade de interpretações que se pode dar a ela, portanto, se sofrer a perda de um ente querido, viva seu luto, se permita chorar e estar triste, mas após isso, mantenha-se firme, e com a certeza de que tudo continua bem apesar da dor. Esteja atento aos nossos próximos artigos e inscreva-se em nossa newsletter para saber das novidades.